sábado, 19 de junho de 2021

 

Aníbal Dias,   “Kamutar”




Recentemente, um companheiro dos meus tempos de Nova Lisboa, cidade hoje conhecida por Huambo, enviou-me uma fotografia de uma figura conhecida por todos os habitantes, e por eles muito estimada e respeitada.

Trata-se de Aníbal Dias, um senhor de avançada idade, que recolhia e guardava num pequeno armazém tudo o que encontrava na rua e que aos outros parecia inútil. Muitas vezes solicitava serviços e nem perguntava quanto tinha de pagar, porque não o tencionava fazer.

Nunca pagou selos para cartas ou encomendas, destinadas a toda a extensão da linha de Caminho de Ferro de Benguela. Dirigia-se á estação de Nova Lisboa, abeirava-se de um viajante e encarregava-o de entregar a missiva a um destinatário que nem sequer conhecia. E fazia-o de modo tão convincente que ninguém recusava a missão.

Por vezes pegava numa bicicleta que encontrava estacionada e servia-se dela enquanto entendesse; e se o dono o questionasse respondia que a tinha encontrado abandonada. O dono acabava por se conformar, como se fosse um tributo devido ao velho Aníbal.

Já não consigo relembrar as muitas histórias que ouvi sobre o velho “Kamutar”, alcunha de que desconheço o significado, e que lhe foi atribuída pelos africanos. Perdura na minha memória, com carinho, a lembrança daquela figura ímpar que conheci na  minha infância. 

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