Aníbal Dias,
“Kamutar”
Recentemente, um companheiro dos meus tempos de Nova
Lisboa, cidade hoje conhecida por Huambo, enviou-me uma fotografia de uma
figura conhecida por todos os habitantes, e por eles muito estimada e
respeitada.
Trata-se de Aníbal Dias, um senhor de avançada idade,
que recolhia e guardava num pequeno armazém tudo o que encontrava na rua e que
aos outros parecia inútil. Muitas vezes solicitava serviços e nem perguntava
quanto tinha de pagar, porque não o tencionava fazer.
Nunca pagou selos para cartas ou encomendas,
destinadas a toda a extensão da linha de Caminho de Ferro de Benguela.
Dirigia-se á estação de Nova Lisboa, abeirava-se de um viajante e encarregava-o
de entregar a missiva a um destinatário que nem sequer conhecia. E fazia-o de
modo tão convincente que ninguém recusava a missão.
Por vezes pegava numa bicicleta que encontrava
estacionada e servia-se dela enquanto entendesse; e se o dono o questionasse respondia
que a tinha encontrado abandonada. O dono acabava por se conformar, como se
fosse um tributo devido ao velho Aníbal.
Já não consigo relembrar as muitas histórias que ouvi sobre
o velho “Kamutar”, alcunha de que desconheço o significado, e que lhe foi
atribuída pelos africanos. Perdura na minha memória, com carinho, a lembrança
daquela figura ímpar que conheci na minha infância.

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