O
tocador de Kissange
Recentemente, um amigo de infância, companheiro de
muitas tropelias, enviou-me esta fotografia tirada por ele, já há muitos anos
na cidade em que crescemos – Nova Lisboa, actualmente chamada Huambo. Levou-me
logo a fazer uma viajem no tempo, agarrado nas asas da memória até à minha
infância. E lá estava ele, o tocador de Kissange, sentado junto à porta da loja
da minha mãe, a mostrar a sua arte e a
tentar recolher umas moedas para o seu sustento. A imagem é tão forte que até
me parece sentir o cheiro do tabaco enrolado que fumava no seu cachimbo.
Não era uma presença constante, mas a espaços lá
aparecia, talvez empurrado pela necessidade.
Os sons que tirava daquele instrumento rudimentar
deixavam-me maravilhado. Ainda hoje, quando um músico africano inclui um solo
de Kissanje nos seus trabalhos, desperta logo a minha atenção, e quase sempre o
meu agrado.
É constituído por uma tábua de base, retangular, onde
se fixam uma série de peças metálicas de tamanhos diferentes, presas a um
cavalete metálico. Por cima das lamelas é aplicado um travessão metálico, sendo
solidarizado por ganchos também metálicos. As lamelas, pressionadas pelos polegares, produzem cada
uma sons diferentes.
O número de lamelas varia consoante a região onde é
produzido, podendo variar entre 7 e 22.
Normalmente funciona em cima de uma cabaça, que lhe
serve de caixa de ressonância.
Em Angola chama-se Kissanji ou Kissanje, embora em algumas zonas seja conhecido
por Tyitanzi.
Pode ser feito à base de bambu, sendo então chamado de
Mbwetete.
Existem instrumentos similares noutros países:
- em Moçambique, chama-se Mbira e tem duas séries de
lamelas, a superior com 15 e a inferior com 7.
- no Congo e África Central o Sansa tem só 7 lamelas
colocadas sobre um caixa de ressonância.
- noutros locais varia o número de lamelas e assume
outros nomes -Kalimba ou Karimba no Uganda
-Mangambeu, nos Camarões
-
Kondi, na Serra Leoa
- Marimba,
na África do Sul
- Likembe
- Budongo, etc.
Também da América Latina me trouxeram dois
instrumentos semelhantes, aparentemente para vender aos turistas, mas que pode terá
ver com a tradição levada pelos escravos africanos.
Na minha coleção pessoal tenho um exemplar original
que me trouxeram da Namíbia.
Da África do Sul trouxeram-me este exemplar, já com aparência de ser destinado a turistas, mas ainda não sendo evidente.
Do Brasil e da Argentina me presentearam com estes outros dois exemplares, que não deixam dúvidas sobre o seu objectivo de serem um “recuerdo” para turista levar para casa.
Vou-me justificando dizendo que não está conveniente afinado....

























































